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quarta-feira, maio 10, 2006

Prefácio

Prefácio

Quando o Sr. Ashley Sampson sugeriu-me que escrevesse este livro, pedi licença para fazê-lo anonimamente, desde que, se tivesse de dizer aquilo que realmente penso sobre o sofrimento, seria forçado a fazer declarações aparentemente tão fortes que se tomariam ridículas se alguém soubesse quem as fizera. O anonimato foi rejeitado como inconsistente com a série; mas o Sr. Sampson afirmou que eu poderia escrever um prefácio explicando que não vivia de acordo com os meus princípios! E é este divertido programa que estou agora levando a cabo. Deixem que confesse, imediatamente, nas palavras do bondoso Walter Hilton, que através de todo este livro "sinto-me tão distante de sentir realmente aquilo que falo, que não posso senão pedir misericórdia e desejar alcançar tais sentimentos na medida do possivel"
1. Todavia, justamente por essa razão, existe uma crítica que não pode ser feita contra mim. Ninguém pode afirmar: "Ele zomba de cicatrizes onde não existiu ferimento algum", pois eu nunca, em nenhum momento, estive num estado de espirito em que até mesmo a idéia de sofrimento grave fosse menos do que intolerável. Se qualquer homem está a salvo do perigo de subestimar este adversário, eu sou esse homem. Devo também acrescentar que o único propósito do livro é resolver o problema intelectual criado pelo sofrimento; para a tarefa mais elevada de ensinar coragem e paciência jamais fui tolo o bastante para considerar-me qualificado, nem tenho qualquer coisa a oferecer aos meus leitores exceto minha convicção de que quando é preciso suportar a dor, um pouco de coragem ajuda mais do que muito conhecimento, um pouco de simpatia humana tem mais valor do que muita coragem, e a menor expressão do amor de Deus supera tudo.
Se um verdadeiro teólogo ler estas páginas verá facilmente que são obra de um leigo e amador. Exceto nos dois capítulos finais, partes dos quais são admitidamente especulativas, acredito que confirmei doutrinas antigas e ortodoxas. Se quaisquer partes do livro mostraram-se "originais", no sentido de serem novidade ou não ortodoxas, isso aconteceu contra a minha vontade e como resultado de minha ignorância. Escrevo, naturalmente, como leigo da Igreja da Inglaterra: mas tentei não presumir nada que não fosse professado por todos os cristãos batizados e participantes. Como esta não é uma obra erudita, não me preocupei em traçar as idéias e citações até suas fontes quando não houve facilidade em fazê-lo. Qualquer teólogo descobrirá facilmente o que, e quão pouco, tive oportunidade de ler.
C. S. LEWIS
Magdalen College, Oxford, 1940