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domingo, maio 14, 2006

Capítulo 1

COMEÇA O SONHO DO AUTOR - CRISTÃO, GUIADO POR EVANGELISTA, INICIA SUA PEREGRINAÇÃO.


Andando pelas regiões desertas deste mundo, achei-me em certo lugar onde havia uma caverna; ali deitei-me para dormir e, dormindo, tive um sonho. Vi um homem vestido de trapos (Is.64:6), de pé em determinado lugar, com o rosto voltado para o lado oposto da própria casa, um livro na mão e um grande fardo às costas (SI 38:4). Olhei e o vi abrir o livro e lê-lo; e lendo, chorava e tremia e já não se contendo, rebentou num choro sentido, dizendo: "Que devo fazer?" (Act.16:30-31).
Nessa angústia, portanto, voltou para casa e se conteve o máximo que pôde, para que sua mulher e seus filhos não lhe percebessem o desconsolo; mas não podia mais calar-se, pois seu tormento crescia. Assim, afinal revelou sua angústia à mulher e aos filhos; e começou a falar-lhes:
- Minha querida esposa e filhos – disse ele – tenho estado muito preocupado em virtude de um fardo que muito me pesa; além disso, tenho uma informação segura de que nossa cidade será queimada com fogo do céu, em cuja terrível destruição eu, você, minha esposa e vocês, filhinhos amados, seremos destruídos, a não ser que haja uma maneira (que não vejo) de escapar, pela qual nos libertemos.
A revelação deixou a mulher e os filhos aflitamente surpresos, não porque acreditassem que o que ele lhes dizia era verdade, mas porque achavam que alguma insensatez desvairada lhe confundia o pensamento. Aproximando-se a noite, portanto e esperando eles que o sono pudesse acalmá-lo, mais que depressa o fizeram dormir. Mas a noite foi para ele tão perturbadora quanto o dia; assim, em vez de dormir, passou-a entre suspiros e lágrimas.
Quando veio a manhã, quiseram saber como ele passara e lhes disse que piorava cada vez mais. Também voltou a falar-lhes, mas eles começaram a mostrar-se endurecidos. Então cogitaram curar-lhe a insensatez por meio de um comportamento rude: às vezes zombavam dele; às vezes o repreendiam; e às vezes simplesmente o ignoravam. Por isso ele passou a isolar-se em seu quarto para orar e lamentar por eles, e também para condoer-se da própria angústia. Caminhava solitário pêlos campos, às vezes lendo, às vezes orando. Assim passou o tempo durante alguns dias.
Ora, vi certa vez quando ele caminhava pêlos campos que (como costumava fazer) lia seu livro exibindo grande angústia e, lendo, rebentou em lágrimas, como já o fizera antes, clamando: "Que devo fazer para ser salvo?"
Vi também que ele olhava para um lado e para o outro, como se pretendesse correr, porém permanecia imóvel, pois, como percebi, não conseguia decidir que caminho tomar. Olhei então e vi um homem chamado Evangelista aproximar-se dele e perguntar-lhe:
- Por que você está chorando?
- Senhor, percebo, por este livro que tenho nas mãos, que estou condenado a morrer e, depois, ir a julgamento (Heb.9:27). Não quero que a primeira coisa aconteça comigo agora, nem tampouco estou pronto para a segunda.
Disse então o Evangelista:
- Por que não está disposto a morrer, se esta vida é afligida por tantos males?
- Porque temo que esse fardo que trago às costas me enterre mais fundo que a sepultura e que eu venha a cair na fogueira. E, senhor, se não estou disposto a ir cara a prisão, não estou disposto (tenho certeza) a enfrentar o juízo e depois a execução. Pensar nessas coisas me faz chorar.
- Se é assim que você se sente — disse o Evangelista, porque você fica aí parado?
- Porque não sei para onde ir.
Então ele lhe deu um livro, no qual estava escrito: "Fugi da ira vindoura" (Mat.3:7).
O homem leu e, olhando para o Evangelista, falou com muito cuidado:
- Para onde devo fugir?
Respondeu o Evangelista, apontando o dedo para um campo bem vasto:
- Vê lá longe aquela porta estreita? (Mat.7:13, 14).
-Não.
- Vê lá longe aquela luz radiante? (SI 119:105;2 Ped.l:19).
- Acho que sim.
- Pois fixe o olhar nessa luz e suba direto até lá. Ao chegar, você verá a porta. Bata e lhe dirão o que deve fazer.